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O Tempo com Alice

Ser mãe de novo… não era algo que eu esperava. Minhas três filhas já cresceram, são mulheres feitas, cada uma com sua vida, seus próprios passos. E eu me acostumava à ideia de estar numa nova fase mais tranquila, mais silenciosa. Até que veio Alice.

Ela agora está com três anos. Três anos de mundo condensado em um corpo pequeno, olhos imensos e uma alma que parece ter vindo com poesia no peito. Alice me olha como se soubesse que veio me lembrar de algo que eu tinha esquecido: o milagre do agora.

Com as mais velhas, eu fui aquela mãe apaixonada pelo pai delas, que resolve, que aprende no susto. Foi lindo, mas foi intenso. Com Alice, (além de ser fechado, eu e ela) o tempo é outro. Eu o sinto passando com mais nitidez. O que antes era rotina, agora é preciosidade. O modo como ela me chama para ver a nuvem “em forma de dragão”, como ela inventa palavras e dança sem música, tudo isso eu guardo como quem coleciona estrelas.

Ver Alice crescer é como reler um livro que amei. As páginas são outras, mas o sentimento é mais profundo. Eu não tenho mais pressa. Não quero que ela cresça logo. Quero ficar aqui, presente, vendo cada traço do rosto mudar, cada passo novo, cada pergunta que ela me faz com olhos cheios de universo.

Às vezes penso em como a vida me deu essa chance: de ser mãe com mais calma, com mais presença, com mais escuta. Com as meninas mais velhas, o amor era o mesmo, mas eu era outra. Agora, eu sou mais inteira. Ou talvez mais simples. Mais disposta a estar, sem tentar controlar tudo.

Alice me ensina todos os dias. Me faz crescer junto com ela. Me lembra que o amor não tem idade, que recomeçar pode ser um presente, e que nada é mais bonito do que ver uma criança florescendo diante dos nossos olhos, e perceber que, no fundo, a gente também está florescendo de novo.