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Diário de Bordo: Voz e Estrada

17 de maio.

Ainda parece um delírio. Ontem eu era só mais um cara com a guitarra no colo, cantando pra parede do meu quarto. Hoje, estou a caminho da terceira cidade da minha primeira turnê mundial. Mundo. Essa palavra ainda soa grande demais pra caber na minha mochila surrada.

As luzes do palco são como tempestades que explodem dentro do peito. Quando eu canto, é como se o tempo parasse, como se o universo escutasse também. As pessoas me olham como se eu fosse algo maior do que eu realmente sou — mas por dentro, continuo sendo só um moleque tentando entender como tudo isso aconteceu tão rápido.

Às vezes, confesso, me sinto perdido. O silêncio do camarim depois dos aplausos é brutal. A euforia vira um eco distante e tudo o que resta sou eu, minha voz cansada e o som do motor do ônibus da turnê. Mas é nesse vazio que eu reencontro a verdade: eu nasci pra isso.

Caí no mundo sem mapa, sem manual, sem rede de segurança. Estou vivendo do que escrevo, cantando o que sinto, e cada cidade é uma nova cicatriz no coração — daquelas boas, que doem bonito.

Conheci fãs que choraram ouvindo minha música, gente que tatuou trechos das minhas letras, estranhos que viraram parte da minha história. A estrada é solitária, mas tem amor por onde passo. Isso alimenta a alma.

Não sei onde tudo isso vai dar. Talvez eu caia de vez. Talvez eu voe mais alto. Mas agora, o mundo é meu palco. E eu vou gritar até a voz falhar, até o coração entender que valeu a pena.