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bem... é;

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Eu coleciono os detalhes que todos descartam. Não as grandes conquistas ou as manchetes do dia. Não as declarações de amor gritadas aos quatro ventos. Minha coleção é mais sutil, silenciosa. Ela é feita do refúgio da atenção alheia, dos fragmentos que escorrem pelas frestas da vida apressada dos outros.

Coleciono a forma como a luz da tarde filtra pela poeira suspensa no ar, criando um espetáculo efêmero que ninguém para pra ver. Guardo a pequena rachadura na xícara de café favorita de alguém, aquela que conta uma história de uso, de conforto, talvez de uma queda que quase foi um desastre.

As pessoas estão ocupadas demais com o enredo principal para notar as notas de rodapé. E é ali, nessas notas, que a verdadeira história se desdobra. O jeito como uma mão se fecha discretamente sobre a outra debaixo da mesa, num gesto de apoio que vale mais que mil palavras. O bilhete de ônibus esquecido no bolso de um casaco, com a data de um dia que poderia ter sido tudo ou nada. O suspiro quase inaudível de uma pessoa no metrô, carregado com o peso de um dia inteiro que não lhe pedi para partilhar, mas que recebo mesmo assim.

Esta coleção tem seu peso. Às vezes, é uma carga de melancolia. Ver a tristeza não dita no ombro caído de um estranho, perceber a solidão na forma como alguém ri alto demais numa festa... é carregar um pedaço do mundo que não me pertence.

Minha galeria particular não tem paredes nem molduras. Ela vive em mim, neste arquivo da alma onde cada pequeno gesto, cada luz fugaz e cada silêncio eloquente é catalogado e preservado com um cuidado quase sagrado. Cada detalhe é um fio, e com eles eu teço o tecido da minha existência, uma tapeçaria rica e complexa que só eu consigo ver por inteiro.

E nele, neste museu de instantes descartados, que eu encontro o meu lugar.